Dia do Voluntário: celebrando uma prática de sucesso
André Mendes, professor voluntário
e ex-aluno de projeto educacional, à direita,
mostra sua carteira de voluntário
(Crédito: Curso Invest)
Em 28 de agosto, comemora-se o Dia Nacional do Voluntariado. A data foi instituída em 1985 pelo então presidente José Sarney, e é um momento de reconhecimento e celebração do poder transformador desta prática, que se fortaleceu em nosso país principalmente a partir da década de 1980. Para comemorar, preparamos uma reflexão sobre quem são os voluntários brasileiros e sobre os diferentes contextos em que eles têm atuado em nosso país.
Aos 18 anos, André Mendes, como vários jovens de sua idade, estava preocupado com o futuro. Morador de Copacabana, no Rio de Janeiro, queria cursar uma faculdade, mas achava sua formação insuficiente para passar no vestibular de uma universidade pública. A particular, pelo custo, era cogitada apenas com bolsa, que ele considerava tão difícil de obter quanto uma vaga em uma instituição gratuita. Uma amiga lhe falou de um curso pré-vestibular que cobrava apenas uma taxa de manutenção simbólica (R$35 por mês para custear material e inscrição em exames para quem não pode pagá-los) e tinha um grande diferencial: todos os 52 professores e monitores eram voluntários, alguns vindos da mesma realidade dos alunos e dispostos a ajudá-los a obter o grande objetivo da vida – cursar o ensino superior.
“Parecia que, por serem voluntários, tinham mais vontade de dar aulas. Ninguém estava ali para cumprir tabela, mas para trabalhar de verdade”, relembra. André frequentou o curso Invest por três anos, até ser aprovado em Ciências Biológicas na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Hoje, já nos últimos períodos, voltou ao pré-vestibular, como professor voluntário. “Minha formação se deve a quem se dispôs a dedicar parte de seu tempo em benefício de gente como eu”, garante. “Então tinha uma espécie de dívida, um desejo de retornar o que me foi dado. Quero que mais pessoas melhorem de vida”.
O voluntariado no Brasil
A história de André, hoje coordenador da área de Biologia do pré-vestibular, nos ajuda a refletir sobre a prática do voluntariado em nosso país. Não é possível dizer quando ela começou, mas especialistas apontam como marco o ano de 1543, quando foi fundada a Santa Casa de Misericórdia, na Vila de Santos, no litoral de São Paulo. Do trabalho de padres e freiras, em sua maioria portugueses, que atuavam junto à população local visando a melhoria da qualidade de vida, aos dias de hoje, muita coisa mudou. Dezenas de organizações e empresas abraçaram o voluntariado, que deslanchou.
De acordo com uma pesquisa feita pelo Ibope em 2011, 25% da população brasileira já realizou algum tipo de trabalho voluntário e 11% o fazem atualmente. Os percentuais podem parecer baixos, mas indicam evolução frente a estudo semelhante realizado dez anos antes, quando apenas 18% disseram já ter desenvolvido alguma atividade voluntária.
O número, porém, é provavelmente maior. “O brasileiro é muito solidário e muitas vezes não conta certas atividades como voluntariado”, analisa Andrea Goldschmidt, consultora de projetos sociais da Apoena Sustentável e professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Quando as pessoas organizam um mutirão para construir uma casa, por exemplo, raramente o veem como voluntariado. Mas é”.
Ainda de acordo com o Ibope, 53% dos voluntários no Brasil são mulheres, 40% pertencem à classe AB, 43% à C e 17%, à DE. A idade média é de 39 anos e a grande maioria trabalha em função remunerada, dedicando cerca de 3,6 horas por mês à atividade solidária.
Grande parte (49%) trabalha em ações de entidades religiosas e 25% atuam em instituições sociais, sendo 10% com ações educacionais. O principal foco são crianças e adolescentes, alvo de 80% das atividades.
Dos voluntários que participaram da pesquisa, 67% disseram realizar algum tipo de atividade para ser solidário e ajudar o próximo, e 32%, para fazer a diferença e mudar o mundo. Além de ajudar o outro, o voluntário colabora consigo. A solidariedade chega a aumentar a longevidade, como afirma um estudo acadêmico feito nos EUA, e a empregabilidade, segundo consultorias.
“No trabalho social, as pessoas fazem uma série de contatos que podem servir tanto emocional quanto profissionalmente”, lembra Andrea Goldschmidt. “Para quem está no começo da carreira ou quer mudar de área, este tipo de tarefa é uma boa oportunidade de ganhar experiência. Para quem está satisfeito com a profissão, é uma forma de descobrir competências e desenvolver habilidades”.
Empresas investem
Não à toa, empresas têm investido em programas de voluntariado. Para Goldschmidt, além de contribuir para o desenvolvimento da comunidade onde atuam, as companhias enxergam nesse trabalho uma forma de melhorar suas próprias atividades. A ampliação das competências e habilidades de seus colaboradores foi o quarto motivo mais citado para o incentivo à prática em pesquisa publicada em 2012 pelo Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), atrás do desejo de desenvolver a comunidade ao redor da empresa, do fortalecimento da imagem da companhia e do estímulo a uma cultura de cidadania.
Voluntária da AACD aposta na leitura
para alegrar crianças
(Crédito: Ricardo Simonsen/AACD)
Em relação aos benefícios externos, o impacto é grande. Em 2012, o CBVE contabilizou, em sua pesquisa de performance com as empresas membro, cerca de 73 mil colaboradores atuando em atividades solidárias, que juntos, teriam beneficiado quase 430 mil pessoas em mais de mil municípios em todo o país.
Os números mostram a força das empresas, que muitas vezes se associam a organizações do terceiro setor para desenvolver atividades de sucesso. “O trabalho sistêmico com empresas e ONGs pode fomentar a perenidade das atividades”, garante Regina Camargo, presidente de Voluntariado da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). A entidade conta com cerca de 1600 voluntários e acredita que este número poderia ser muito maior. “Recebemos uma quantidade enorme de pessoas querendo ser voluntárias”, diz.
Isto acontece, de forma geral, porque a prática do voluntariado forma redes sociais. “Uma pessoa chama outra, que convida mais uma e, quando vemos, há mais gente disponível do que conseguimos administrar”, afirma. “O grande problema que temos hoje é gerenciar este contingente”.
‘Profissionalização’
A gestão do voluntariado, portanto, passa a ser um novo desafio. Muitas organizações já adotam práticas corporativas, como metas e indicadores, para atingir seus objetivos. A tendência de profissionalizar a gestão, porém, não altera um importante diferencial. “Para dedicar algumas horas a fazer o bem, a pessoa precisa gostar do que está fazendo. O voluntário adora trabalhar, suar mesmo a camisa”, enfatiza Regina.
Voluntários do projeto Tudo de Cor após
um dia de atividades (Crédito: Tudo de Cor)
É o que atesta a produtora Maria Eduarda Mattar. Após fazer uma série de trabalhos voluntários, ela se apaixonou pela ideia e incorporou o voluntariado nas atividades de um projeto que coordena, o Tudo de Cor pra Você. A iniciativa pinta casas da comunidade do Santa Marta, no Rio de Janeiro, e busca motivar pessoas a ajudar não só nessa atividade mas em outras. “É um trabalho de formiguinha, mas que não pára de crescer. A sensação de dever cumprido após um dia de trabalho fica estampada no rosto das pessoas”.
A satisfação que motiva voluntários em todo o mundo é a mesma com que hoje parabenizamos todos vocês, que doam seu tempo e empenho em ações de solidariedade. Parabéns, voluntários!