Dia Mundial do Doador de Sangue: ajude quem doa vida
Em 1818, o médico inglês James Blundell conseguiu realizar um experimento revolucionário. Após testes com animais, transfundiu sangue humano em mulheres com hemorragia pós-parto e não houve más consequências para as pacientes, o que salvou a vida delas. O sucesso levou a mais experiências, inclusive à descoberta, em 1901, dos tipos sanguíneos pelo biólogo austríaco Karl Landsteiner, considerado o pai da moderna transfusão de sangue. A confirmação de que existem modalidades sanguíneas permitiu a médicos de todo o mundo realizar transfusões com a certeza de que a vida dos pacientes não estará em risco.
Para homenagear Landsteiner e estimular a doação de sangue, a Organização Mundial de Saúde (OMS) institui 14 de junho, aniversário do austríaco, Dia Mundial do Doador de Sangue.
Este ano, o tema da efeméride remete à origem da prática – “Doe sangue a quem doa vida”. O objetivo é chamar a atenção para a quantidade de mulheres que morrem em decorrência da falta de sangue quando estão dando à luz.
Segundo a OMS, cerca de 800 mães morrem todos os dias devido a complicações da gravidez ou do parto, como hemorragias, a maioria em países em desenvolvimento. Artigo publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem mostra que 14,26% dos óbitos maternos no Brasil decorrem de hemorragias. “É a maior causa evitável de morte materna no mundo”, escrevem os autores. A campanha, por consequência, visa chamar atenção para o problema e mobilizar doadores para que falecimentos desse tipo não ocorram, pois grande parte poderia ser evitada com uma simples transfusão de sangue.
“Há anos as campanhas focam na segurança do paciente. Este ano, o objeto são as mães, pois a perda de vida dela ou da criança tem um impacto enorme”, lembra a médica Selma Soriano, da Fundação Pró-Sangue, de São Paulo.
Situação Brasileira Preocupa
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, 3,6 milhões de bolsas de sangue são coletadas todos os anos. Parece muito, mas não é. Os estoques de muitos bancos de sangue, públicos e privados, ficam perto do limite mínimo com bastante frequência, como aponta o próprio órgão federal. A Fundação Pró Sangue, por exemplo, atualiza diariamente os dados de seu banco. Em 6 de junho, uma semana antes do Dia Mundial do Doador, apenas os estoques de AB estavam cheios. Os demais estavam perto de zero.
Os dados preocupam, pois os bancos de sangue são procurados por hospitais e clínicas para obter material a ser usado em cirurgias de emergência, por exemplo. Por isso, a doação frequente é muito importante. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, apenas 1,9% da população já doou sangue, frente a 7,5% na Europa. Dados da Fundação Pró-Sangue mostram que apenas 25% de quem doa o faz com alguma frequência.
“É um problema cultural”, afirma Selma Soriano. “Precisamos estimular mais pessoas a praticarem este ato e demandar mais infraestrutura para que o número de postos de coleta cresça”.
A psicóloga Bianca Andrade, por exemplo, doa sangue ao menos uma vez por ano. “Geralmente, atendo a pedidos de amigos, mas também vou espontaneamente”, afirma. “É bom ajudar quem é próximo e mesmo quem não é”.
Doação de Sangue: quem pode?
A grande maioria das pessoas pode doar sangue.
Requisitos básicos
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Estar em boas condições de saúde.
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Ter entre 16 e 69 anos, desde que a primeira doação tenha sido feita até 60 anos (na Pró-Sangue, menores de 18 anos precisam apresentar um formulário de autorização, acompanhado de documentos).
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Pesar no mínimo 50kg.
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Estar descansado (ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas).
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Estar alimentado (evitar alimentação gordurosa nas 4 horas que antecedem a doação).
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Apresentar documento original com foto emitido por órgão oficial (Carteira de Identidade, Cartão de Identidade de Profissional Liberal, Carteira de Trabalho e Previdência Social).
Impedimentos temporários
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Resfriado: aguardar 7 dias após desaparecimento dos sintomas.
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Gravidez: esperar 90 dias após parto normal e 180 dias após cesariana.
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Amamentação: aguardar 12 meses após o parto.
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Ingestão de bebida alcoólica: aguardar 12 horas.
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Tatuagem: aguardar 12 meses.
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Se esteve exposto a situações nas quais há maior risco de adquirir doenças sexualmente transmissíveis: aguardar 12 meses.
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Se não mora, mas viajou para Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso, Pará e Tocantins: aguardar 12 meses, pois nestes estados há alta prevalência de malária.
Impedimentos definitivos
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Ter evidência clínica ou laboratorial das seguintes doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue: Hepatites B e C, AIDS (vírus HIV), doenças associadas aos vírus HTLV I e II e Doença de Chagas.
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Já ter contraído malária.
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Ter contraído hepatite após os 11 anos de idade.
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Usar drogas ilícitas injetáveis.