Força na peruca



Adriana André,

com a peruca que recebeu

Em abril de 2013, a enfermeira Adriana André, então com 32 anos, recebeu uma notícia que a abalou. Seu médico diagnosticou um câncer na mama e recomendou iniciar a quimioterapia o mais rápido possível. Em junho, ela já se submetia às sessões. O tratamento ia bem até que seu cabelo, sempre tratado com tanto carinho, começou a cair, cerca de quinze dias após o início da quimio. Decidiu raspar a cabeça. “Ele era lindo e vê-lo ir embora foi um choque. Talvez até maior do que a notícia da doença”, revela. Vaidosa, Adriana sentiu bastante. “Não cheguei a entrar em depressão, mas fiquei assustada”, relembra. “Minha sorte foi ter pessoas solidárias à minha volta”.

A solidariedade veio, entre outras, na forma de cabelo. Mais exatamente, de alguns centímetros de cabelos, suficientes para fazer uma peruca, que serviu para a enfermeira recuperar a autoestima e ter força para seguir o tratamento, que deu certo. “No começo, achei que não ia me adaptar, mas logo vi que estava com uma imagem melhor e isso me fez deixar a tristeza para trás. Até variava o visual, alternando o novo cabelo com lenços”.

A carioca conseguiu a peruca por intermédio da Fundação Laço Rosa, baseada no Rio de Janeiro. A entidade faz campanhas informativas sobre o câncer de mama e ajuda os pacientes de diversas formas. Uma delas, doando perucas a quem passa por quimioterapia. “Pelo efeito que produz, é como se fosse um remédio”, diz a gerente da organização, Patrícia Bullé, referindo-se à elevação da autoestima das pessoas com câncer.

Produção

A produção da peça é personalizada. A ONG recebe pedidos de pacientes e, antes de encomendar a peruca, requisita uma foto da pessoa ainda com cabelo e outra do momento atual. “Nossa ideia é refazer o visual, mas, se não for possível, por falta de fios, fazemos sugestões a partir da fotografia da atualidade”, explica Patrícia.

As perucas são compostas com doações. Qualquer mulher (ou homem, vale ressaltar), independente do tipo de cabelo, pode ajudar. Há, no entanto, alguns requisitos. É necessário cortar ao menos 10 centímetros (cerca de um palmo, porém, quanto mais, melhor) e prender a mecha cortada com elástico ou fazer uma trança (veja as instruções completas no fim do texto). Em seguida, envia-se o pedaço, seco, por correio à ONG.

“Cada dez mechas rendem uma peça para adultos”, explica Patrícia. “Precisamos selecionar os fios, pois alguns servem apenas para franjas, por exemplo”. A peruca é encomendada a um cabeleireiro ou a um peruqueiro (profissional do ramo), que realiza cortes e até colorações para uniformizar o tom dos fios.

Se fosse comprada, cada unidade custaria de R$250 a R$4500, dependendo do tipo de fio (sintético ou natural) e do comprimento. Porém, não só a Laço Rosa como outras entidades (há uma lista no fim do texto) contam com parcerias para executar o trabalho. Há profissionais voluntários e outros que fazem o serviço a preço de custo.

O material pronto é enviado às pacientes em uma caixa personalizada, acompanhado de brindes como kit de maquiagem e lenços. “Fazemos um mimo para a pessoa se sentir valorizada e ter mais força para enfrentar o tratamento”, diz Patrícia.

Solidariedade

A possibilidade de dar força a uma pessoa com câncer foi o que motivou a bancária do Distrito Federal Isabela Gama, de 31 anos, a cortar e doar seu cabelo em 2012. No fim daquele ano, ela soube que uma colega de trabalho estava passando por sessões de quimioterapia e se ofereceu a ajudar. O meio encontrado foi a doação. “Foi uma forma de me fazer presente ao longo do tratamento”, diz.



Isabela (à direita) e as amigas, antes e depois do corte solidário.

Após entrar em contato com um peruqueiro para saber como cortar, ela chegou ao salão com mais duas amigas, que também entregaram as madeixas à tesoura em um dia de beleza e solidariedade. De visual novo, levaram as mechas ao profissional, que confeccionou a peça, entregue em seguida à colega, que também ficou de look renovado. “Foi uma satisfação tão grande ver a felicidade dela, uma pessoa que nem era tão próxima, que decidi divulgar a ideia”, lembra Isabela.

A decisão se materializou em um blog que estimula a doação, traz informações e coloca as pessoas em contato. A bancária também se dispôs a receber mechas e, em alguns meses, já conseguiu 10 quilos de cabelos. Os fios chegaram às mãos do mesmo profissional que fez a primeira peruca e as novas serão entregues em agosto a pacientes de um hospital de Taguatinga, no Distrito Federal.

“Passei 30 anos cortando cabelo e jogando fora”, diz Isabela. “É ótimo saber que quando quiser um novo visual, também vou proporcionar um a quem precisa”.

Doação de cabelos – como fazer

  • O corte deve ter ao menos 10 cm de comprimento (cerca de um palmo).

  • Cabelos repicados ou com corte em V precisam ter ao menos 15 cm.

  • Qualquer tipo de cabelo pode ser doado, mesmo que tenha química ou tingimento.

  • Após o corte, amarre o cabelo com elásticos nas duas pontas ou faça uma trança, que também deve ser amarrada.

  • O cabelo deve ser doado completamente seco, pois pode estragar se estiver molhado ou úmido.

Entidades que podem receber a sua doação

Rio de Janeiro

Banco de Perucas Laço Rosa – Rua Desembargador Isidro, 18, Sala 910, Tijuca, Rio de Janeiro, CEP 20521-160. Telefone: (21) 7974-8504.

São Paulo

ONG Cabelegria – Avenida Parada Pinto, 3420, Bl. 06, Ap. 33, Vila Nova Cachoeirinha, São Paulo, CEP 02611-001. Email: cabelegria@gmail.com.

Minas Gerais

Instituto Mário Penna – Rua Guaicuí, 20 / 15 andar, Cidade Jardim, CEP 30380-380, Belo Horizonte. Telefone: 0800 039 1441.

Espírito Santo

<a href="http://www.sbph.org.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=237:afecc-hospital-santa-rita-de-cassia&catid=135&Itemid=782">Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer do Hospital Santa Rita de Cássia – Avenida Marechal Campos, 1579, Santa Cecília, CEP 29043-260, Vitória. Telefone: (27) 3334-8058.

Sergipe

Associação dos Voluntários a Serviço da Oncologia em Sergipe – Rua Leonel Curvelo, 55, Suíssa. Telefone: (79) 3212.4700. Email: avosos@avosos.org.br.

Santa Catarina

Associação de Voluntários da Saúde do Hospital Infantil Joana de Gusmão – Rua Rui Barbosa, 152, Agronômica, CEP 88025-301, Florianópolis. Telefone: (48) 3251-9017. Email: hijg@saude.sc.gov.br.

Rio Grande do Sul

Instituto da Mama do Rio Grande do Sul – Rua Ramiro Barcelos, 850, Porto Alegre. Telefone: (51) 3023-7701 ou 3012-7702. Email:adm2@imama.org.br.