Voluntariado no Exterior: fazer o bem e melhorar o currículo!




Voluntários ajudam a construir o Matrimandir,
templo na Índia(Crédito: Flickr Unemotoeninde)

Aos 24 anos, o designer Narayan Silva decidiu embarcar em uma experiência que marcou sua vida. Foi à Índia e, chegando lá, conheceu amigos de amigos, que estavam envolvidos em um projeto que o encantou: terminar de construir um templo erigido em uma cidade planejada para integrar a humanidade. Candidatou-se à vaga de ajudante e foi aceito. Hoje, Silva se orgulha de ser um dos responsáveis pelo Matrimandir (em sânscrito, “O Templo da Mãe”), um dos símbolos de Auroville, cidade-modelo de dois mil habitantes apoiada pela Organização das Nações Unidas para a Ciência, Cultura e Educação (Unesco).

Pelos seis meses de trabalho, nada ganhou — financeiramente, pois trouxe da Índia um grande aprendizado e a certeza de ter ajudado um projeto cujo único objetivo é comprovar que diferentes culturas podem viver em harmonia entre si e com o meio ambiente. A viagem foi tão marcante que, três anos depois, aos 27, em 2010, o carioca decidiu se voluntariar mais uma vez. Na internet conheceu a Ute Bock, ONG austríaca que trabalha com refugiados. Pesquisou mais sobre a organização, enviou um email aos coordenadores dela e, outra vez, foi aceito. Pegou um avião para Viena e teve mais dois meses marcantes, nos quais escutou os problemas de quem estava na Europa fugindo de problemas em seu país e ajudou a tornar a vida no novo país menos complicada.


“Foram experiências muito enriquecedoras, que superaram minhas expectativas de longe. Melhorei o inglês, desenvolvi bastante meu alemão, aprendi muito sobre como pensam austríacos, indianos e as pessoas de diversas nacionalidades com as quais convivi durante o tempo que estive nos dois países. Não poderia ter sido melhor do que foi”, resume o designer, que assegura aplicar muito do aprendizado na vida profissional e pessoal.

Demanda Crescente

Como Narayan, muitos jovens têm buscado trabalhos voluntários no exterior a fim de passar por momentos que contribuam não só para si, mas também para a sociedade, seja em atividades de campo, seja em tarefas de escritório. Não há estatística oficial sobre quantos brasileiros já foram trabalhar em outros países nesse regime, pois a maioria vai com visto de estudante ou mesmo de turismo, o que dificulta a contabilidade, explica Gisele Mainardi, gerente de produto da Central do Intercâmbio (CI). A mesma dificuldade existe para conhecer os principais destinos, mas as agências de intercâmbio apontam a África anglófona e a América Latina como os continentes mais atrativos para brasileiros.

A CI não revela quantas pessoas já participaram de seu programa de voluntariado no exterior, mas Mainardi afirma que de janeiro a julho de 2011, o número de inscritos foi igual a todo 2010, o que comprova o crescimento da procura. Na Aiesec, outra agência de intercâmbio, dos 1096 brasileiros que foram para o exterior por seu intermédio no ano passado, 808 optaram pelos programas de desenvolvimento, como é chamado o trabalho voluntário por lá.

O aumento é creditado à melhoria da economia nacional, que permite passar de duas semanas a quatro meses (tempo médio de um intercâmbio voluntário) no exterior sem remuneração, e à busca por novas experiências, por ajudar a preservar a natureza e a melhorar a qualidade de vida de quem mais necessita. Tudo isso abrindo a possibilidade de acrescentar diferenciais ao currículo profissional e, claro, conhecer novas culturas e pontos turísticos.

Perfil dos Voluntários Internacionais

Os intercambistas, segundo as agências, são jovens de até 30 anos, que já viajaram mundo afora, têm bom nível cultural, mas sentem falta de um “algo mais”. “São pessoas em fase de decisão da carreira ou buscando uma oportunidade de ter alto impacto na sociedade”, afirma Larissa Armani, coordenadora de relações externas da Aiesec. O trabalho voluntário pode servir para aplacar tanto a indecisão quanto o desejo de ser solidário.


Para Sandra Betti, diretora da consultoria de recursos humanos MBA Empresarial, quem opta por essa ativdade é cheio de qualidades. “Só a decisão de fazer trabalho voluntário fora do seu país já revela coragem, força, altruísmo, foco em pessoas, empatia, responsabilidade e comprometimento com valores e ideais”, enumera.

Para ela, o jovem tem muito a ganhar dedicando um período de sua carreira a tarefas internacionais não remuneradas. “A experiência pode enriquecer o currículo em muitos aspectos, sobretudo se for uma atividade que envolva trabalho em equipe, resolução de problemas e foco em resultados. Além deste tipo de experiência propiciar o exercício de flexibilidade, capacidade de trabalhar sob pressão, resiliência, equilíbrio emocional, entre outros”.

Isso porque as tarefas envolvem desde o trabalho com crianças, em atividades de saúde e educação, a trato com animais e profissionais de diferentes áreas. Além disso, muitas organizações, por não terem recursos abundantes, acabam empregando voluntários e funcionários em mais de uma atividade.

Lidar com isso tudo, no entanto, nem sempre é simples. “A expectativa é sempre muito grande”, garante Gisele Mainardi. “As pessoas muitas vezes acreditam que poderão resolver o problema local em sua permanência. Para não haver frustração, sempre lembramos que ninguém vai salvar o mundo, mas todos podem ajudar”.

Realidades


Ter em mente que enfrentará realidades bem diferentes às quais está acostumado é outra orientação reforçada pelas agências a estudantes e jovens profissionais. Os viajantes são, em sua maior parte, de classe média e nem sempre se depararam com realidades de pobreza e infraestrutura precária. Por isso, recomenda-se muita leitura sobre o projeto com o qual a pessoa irá se envolver e o contexto do local, até para conhecer a legislação trabalhista, a seriedade da organização com a qual colaborará e o custo de vida.

Além, é claro, de ter mente aberta. “É preciso estar ciente de que tudo que você aprendeu como certo e errado pode ser visto de outra forma numa nova cultura”, lembra Narayan Silva.


Ele mesmo, antes de viajar, conversou com amigos que já tinham estado na Índia e na Áustria para tentar entender um pouco mais da realidade local e conhecer os trabalhos que iria realizar. A internet, nessas horas, é uma boa ferramenta. Além dos sites das agências, há comunidades no Facebook com informações e dicas sobre intercâmbio social

Os dados virtuais, porém, nem sempre são suficientes. As agências, por exemplo, recorrem a parceiros locais, tanto profissionais com experiência em atividades voluntárias no local quanto organizações sociais e ambientalistas, para decidir que destinos ofertar e com quem estabelecer vínculos. São essas pessoas, ONGs e empresas que selecionarão hospedagem e informarão sobre alimentação e custos, além, é claro de serem acionadas em caso de emergência ou de qualquer problema que venha a ocorrer com o brasileiro no exterior.

Conhecido o destino, é bom também se preparar para as tarefas a serem desempenhadas para não ser pego de surpresa. Nem sempre o trabalho voluntário precisa ser na atividade fim de uma organização. Pode-se colaborar (e aprender muito) com conhecimentos de administração, comunicação e contabilidade, por exemplo. Afinal, são atividades sem as quais muitos trabalhos interessantes não saem do papel.

Para se candidatar a um trabalho voluntário em outro país, não é preciso ser fluente no idioma local e nem saber desempenhar a tarefa que lhe caberá. Basta conseguir se comunicar basicamente e ter muita boa vontade e paciência. Há várias agências, tanto no Brasil quanto no exterior, que oferecem pacotes. O preço varia de acordo com o destino, o projeto e o tempo de estadia, mas, além do custo com a passagem e do programa em si, as agências recomendam reservar cerca de US$ 180 por semana para despesas pessoais. E uma reserva caso a pessoa queira, além de trabalhar, aproveitar as folgas para viajar. Afinal, ninguém é de ferro.

Cresce interesse de estrangeiros voluntários

Se o número de brasileiros fazendo ativdades voluntárias no exterior tem crescido, o mesmo acontece com a quantidade de estrangeiros vindo ao Brasil para colaborar com a preservação do meio ambiente e com atividades sociais.

“Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, a exposição do Brasil aumentou, o que fez crescer o interesse dos estrangeiros no país”, explica Gisele Mainardi, gerente de produto da CI. A maioria dos voluntários vem da Europa e dos EUA e busca também e enriquecer o currículo.

A ONG carioca Viva Rio, por exemplo, conta com uma estudante canadense em seu escritório. Ela colabora nas atividades sociais da organização e aproveita para colher dados para sua pesquisa universitária. As recomendações são as mesmas feitas aos brasileiros quando vão ao exterior – conhecimento básico da língua local e da realidade nacional.

Links interessantes:

CI: www.ci.com.br

Aiesec: www.ci.org.br

AFS: www.afs.org.br

Iko Poran (Promove a vinda de voluntários para o Brasil): www.ikoporan.org