Voluntariado e Pessoas com Deficiência: tudo a ver!

As pessoas com deficiência são como todas as outras, com uma ou outra necessidade especial (pensando bem, quem não tem?). Sonhos, planos de carreira e vontade de ajudar o próximo, por exemplo, estão presentes na vida de todos - por que não estariam na de um cadeirante ou de um deficiente auditivo?

Foi com essa pergunta na cabeça que a cadeirante Suelen Costa procurou o banco onde trabalha, o Itaú, para começar um trabalho voluntário. “Sempre tive vontade de ajudar, mas não sabia bem de que forma. Como o banco possui ações internas, procurei os responsáveis e mostrei interesse. Daí em diante tudo andou”, conta.

Suelen identificou as atividades que gostaria de fazer e o programa de voluntariado da Fundação Itaú Social a ajudou a escolher locais acessíveis. Foi, então, ler histórias para crianças de um hospital de São Paulo, onde mora. “A criança não te vê como diferente, apenas como uma pessoa que está lá para diverti-la”, diz. “Não há olhar estranho, apenas atenção à estória. É uma delícia”.

Se os pequenos não notam diferença, jovens prestes a terminar o Ensino Médio já a percebem, mas ela serve como incentivo, garante Suelen. Foi o que aprendeu quando contou sua história de vida a adolescentes de uma escola da periferia de São Paulo, como parte do programa Estudar Vale a Pena, do Instituto Unibanco.

A iniciativa, como o nome diz, incentiva a juventude a investir nos estudos. “Falei que, fora estar em uma cadeira de rodas, éramos iguais. Que, com estudo, se chega onde quiser. E se eu consegui, eles também poderiam”, lembra Suelen.

Assim como Suelen, Juliana Mariano mostrou que não há dificuldade na hora de ajudar o próximo. Deficiente auditiva desde criança, ela cancelou uma viagem para Nova York em troca de 16 dias de trabalho voluntário no Haiti. O que para muitos parece loucura para ela foi uma experiência de arrepiar, no bom sentido. “Quando se trata de Haiti, me emociono facilmente”, garante.

Enquanto planejava as férias nos EUA, dois anos atrás, tinha sonhos constantes com um lugar destruído, onde era cercada por crianças. Um dia, estava na igreja de sua cidade, São José do Rio Preto (SP) e um padre citou o país caribenho, que já foi afetado por terremotos e furacões. É hoje um dos mais pobres do mundo. O sonho e a realidade se uniram ali e ela imediatamente mudou o embarque. “Sem pensar duas, vezes, sabia que tinha uma missão para cumprir”, lembra.

Mobilizou colegas da Scopus Tecnologia Ltda., empresa da Organização Bradesco, para comprar itens médicos, como esparadrapos e gazes, e alimentos. Com o apoio, conseguiu adquirir os itens necessários para fazer um trabalho melhor na Instituição onde trabalhou.

A deficiência em nada a prejudicou. “Uso aparelho auditivo desde os nove meses. Eu me comunico bem, mas, com ou sem deficiência, tudo é possível para solucionar problemas”, afirma.

Segundo ela, a experiência foi gratificante. “Hoje sei que valeu muito a pena ter ido, ter levado para aquelas crianças um pouco de alegria. Recebi muito mais do que dei”. Para aqueles que ainda não começaram no voluntariado, ela deixa um recado: “Se tem um sonho, nem pense duas vezes. Vá atrás logo. Tudo é possível, nada impede”.

Feira mostrou novidades para pessoas com deficiência

Histórias como essas mostram como, felizmente, as pessoas com deficiência estão cada vez mais inseridas na sociedade como o que elas realmente são - gente comum, mas com algumas peculiaridades, às quais a sociedade (e não eles e elas) deve se adaptar.

Reflexo disso é o sucesso da Reatech - Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade, que aconteceu em São Paulo de 9 a 12 de abril. O evento discutiu formas de melhorar a vida de pessoas com deficiência - inclusive com a ajuda do voluntariado - e trouxe novidades que podem ajudar o dia-a-dia desse grupo, que chega a 46 milhões de pessoas no Brasil.

Com mais de 300 expositores, a feira trouxe o que há de mais moderno na aparelhagem para atender aos que precisam de um cuidado extra. São carros adaptados, com comandos de seta, faróis no volante etc., reprodutores de áudio de livros, chat libras, relógios táteis e falantes e tudo o mais necessário em um mercado que movimenta em torno de R$5,5 bilhões por ano.

O número de novidades impressiona, mas é reflexo da consciência da sociedade. Cada vez mais pessoas com deficiência estão inseridas no mercado de trabalho. São mais de 20 milhões de trabalhadores, segundo dados do IBGE. “A diversidade ajuda as empresas e a sociedade a estabelecerem conexão com o mundo real”, afirmou, em palestra o consultor Reinaldo Bulgarelli.