O Remédio da Alegria
Começaram com dois palhaços fazendo uma visita à pediatria de um hospital de São Paulo (SP). Hoje, 19 anos depois, a organização Doutores da Alegria faz mais de 600 mil visitas/ano, em 14 hospitais em 4 estados: SP, RJ, MG e PE, nas capitais. A iniciativa tornou-se referência em ação social profissionalizada. Criou uma nova profissão: o besteirologista que leva alegria para crianças hospitalizadas e assim ajuda-as na recuperação e na maneira de viver a vida. Um dos ‘culpados’ disso tudo é o ator e palhaço Wellington Nogueira, que falou por e-mail ao Portal do Voluntário. Confira!
Portal do Voluntário: No começo via-se a organização Doutores da Alegria como um grupo simpático de palhaços que faziam crianças hospitalizadas dar risadas. Hoje é um “negócio social” de prestígio, bem-sucedido, com atividades diferenciadas e diversas…
Wellington Nogueira: Bem, na verdade, desde o começo, sempre encaramos a generosidade e a boa vontade como pressupostos para um trabalho profissional, uma vez que eu reproduzi aqui no Brasil o que eu tinha vivenciado nos Estados Unidos: um trabalho artístico realizado por profissionais bem treinados para este fim, regularmente e amparado por uma estrutura sem fins lucrativos profissional e competente, como é o Big Apple Circus em Nova Iorque. Essas foram minhas referências e procurei reproduzir o que aprendi, pois acredito nessa forma de trabalhar.
Portal do Voluntário: Como se deu a passagem da fase, digamos, da generosidade e boa vontade para o negócio social, praticamente uma empresa?
Wellington Nogueira: Por isso, a passagem é uma conseqüência natural da maneira como encaramos o trabalho: algo novo que gera um conhecimento importante para o ser humano e que precisa ser desvendado, organizado e disseminado.
Conhecimento, quanto mais você aprofunda, mais fascinante se torna e atrai o interesse de mais gente. Investimos em pesquisa para saber os resultados e o alcance dos investimentos feitos em nosso trabalho. Daí os desdobramentos em oficinas, livros, peças, palestras e mais uma série de ações para dar acesso à experiência da alegria. Aprofundar, desvendar, organizar e disseminar.
Portal do Voluntário: Hoje qual é a parte negócio e qual a social da Doutores da Alegria? O que se faz, resumidamente, como negócio. O que se faz como social?
Wellington Nogueira: Tudo é negócio e tudo é social; na maioria de nossas atividades – palhaços em hospitais, escola de jovens palhaços, programas de formação para profissionais de saúde, Platéias Hospitalares (em fase de piloto, no RJ), Palhaços em Rede e eventos nas sedes de SP, BH e Recife – o público atendido não paga nada, mas captamos os recursos para que elas aconteçam com qualidade. Existem atividades que geram recursos, como palestras em empresas, espetáculos teatrais, publicações, ações de marketing relacionado à causa, mas que têm o mesmo objetivo da instituição: ampliar o alcance da missão, ou seja, fomentar uma cultura de alegria. Portanto, tudo é negócio e tudo é social.
Portal do Voluntário: Por que palhaços? Por que palhaços profissionais, remunerados?
Wellington Nogueira: Conforme disse, reproduzi o que aprendi porque acredito nos resultados! Palhaços bem formados têm consciência do papel que podem desempenhar em tornar mais alegres as relações com a vida. Por que não fazer disso uma profissão? Por que não abrir um novo campo de trabalho para que mais artistas possam levar alegria a mais instituições e assim, aprendermos um novo jeito de olhar o mundo e se relacionar com ele? Todos nós aqui vivenciamos momentos transformadores em nossas vidas por conta do que aprendemos com as crianças hospitalizadas e seus pais e profissionais de saúde. Por que não repartir e ampliar? Por que aprisionar tanta coisa boa em torno de uma pessoa ou um pequeno grupo?
Portal do Voluntário: Destaque alguns resultados.
Wellington Nogueira: Vi nascer o movimento de Humanização Hospitalar que virou um programa de governo, hoje conhecido como HumanizaSUS; vi e vejo hospitais procurando tornar os processos mais confortáveis e solidários junto aos pacientes. Ainda falta muito para fazer, mas credito tudo isso a esse movimento em busca das possibilidades de alegria na adversidade. E tenho certeza de que essa mensagem chegou a tantas pessoas porque foi tratada de maneira profissional, com pesquisa, com dados, fatos, relatórios, empenho de gente que acredita na importância de tudo isso e dedicou sua vida a esse trabalho. Por que não fazer o que se ama e acredita e ser remunerado por isso?
Portal do Voluntário: Por que crianças?
Wellington Nogueira: Porque são os melhores mestres que um palhaço pode ter. Se o palhaço não entrega o serviço, ela continua assistindo TV. (Rsrsrs.)
Portal do Voluntário: Em quantos hospitais e estados estão hoje os Doutores da Alegria?
Wellington Nogueira: 14 hospitais em 4 estados: SP, RJ, MG e PE, nas capitais.
Portal do Voluntário: É grande a demanda por vagas nas equipes de doutores da Alegria?
Wellington Nogueira: Tem crescido muito! Os processos seletivos para palhaços são muito disputados. Hoje, muitos artistas têm dimensão do aprendizado que recebem ao trabalhar com platéias inusitadas, como a hospitalizada ou institucionalizada. Acrescenta uma dimensão maior ao trabalho artístico e traz, para o pessoal, um crescimento considerável.
Portal do Voluntário: O que mais chama a atenção na ação das voluntárias e voluntários em hospitais?
Wellington Nogueira: Cruzamos com vários tipos de voluntários, desde o VIVA E DEIXE VIVER, que tem voluntários maravilhosos e muito bem treinados lendo e contando histórias para as crianças até as senhoras que usam avental cor-de-rosa, sempre acolhendo, amparando, organizando eventos, entretendo pacientes de todas as idades; há também ótimos grupos de palhaços que atuam voluntariamente, como vemos nas oficinas do Programa Palhaços em Rede. Como se pode ver, os voluntários vêm em vários formatos e propósitos! O que é muito bom para todo mundo!
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