I Acampamento de Empreendedorismo Social: acampar para transformar
No início de junho, cerca de 70 jovens se reuniram em um acampamento no interior de Minas Gerais. O que poderia ser apenas mais um evento divertido foi além e virou um verdadeiro laboratório de transformação, onde adolescentes de classe média se encontraram com jovens da periferia para terem lições de empreendedorismo social. Tudo com muita força de vontade, desejo de entender o outro e botar a mão na massa para melhorar o mundo no I Acampamento de Empreendedorismo Social.
“Sempre tive vontade de fazer algo para mudar aquilo que me aflige, mas eu parecia tão pequena, e os problemas tão grandes... O acampamento conseguiu desconstruir toda essa ideia de ‘não ser capaz’, mostrando que, na verdade, nós iremos mudar as coisas”, resume Thais de Lima e Silva, 16 anos.
Thais foi uma das participantes do Laboratório de Transformação, o outro nome do acampamento. A iniciativa partiu da empresa de eventos NR e da cineasta (e empreendedora social) Mara Mourão, diretora do filme "Quem se importa". O objetivo era sensibilizar jovens para a possibilidade de fazer algo para mudar seu entorno, tanto de forma teórica como prática. “Impactar o jovem nessa fase da vida pode fazer muita diferença em suas escolhas e na maneira de ele encarar o mundo”, diz Kito Vivolo, da NR.
As inscrições foram abertas a alunos de escolas particulares de São Paulo interessados em iniciativas sociais. Matricularam-se jovens com e sem atuação em projetos sociais. Para aumentar a diversidade, a organização do evento criou um “crowdfunding” para que adolescentes da periferia paulistana também estivessem presentes.
A ONG Unas, que atua na região de Heliópolis, foi convidada a selecionar participantes. Um deles foi Igor da Conceição. “Atuo na maioria dos projetos sociais de Heliópolis, por isso fui chamado a representar a entidade e a comunidade”, diz.
Cientes de que prender a atenção de tantos adolescentes (e de origens e formações tão diferentes) é uma tarefa difícil, os organizadores propuseram atividades dinâmicas, com palestrantes conectados às demandas da juventude e com linguagem próxima a eles. Além de falas, houve oficinas de cooperação, liderança, técnicas de comunicação, mutirões e debates sobre como montar e desenvolver projetos na prática.
“O acampamento teve uma mistura perfeita de teoria e prática”, diz Natasha Alonso, outra participante. “O que mais me chamou atenção e emocionou foram as histórias pessoais de cada um, e como cada um chegou onde está. Isto me fez perceber o quanto cada um pode ser grande e mudar o mundo”.
Essa troca incluiu a de experiências entre os jovens de classe média e da periferia. Se num primeiro momento houve um estranhamento, natural de quem não se conhecia, as barreiras foram logo derrubadas. “No final da viagem, senti que conseguimos formar um grupo unido e, todos os pré-conceitos que foram estabelecidos no primeiro dia, foram deixados para trás”, conta Thais.
Para trás também ficou a ideia de que a carreira e a busca por um mundo melhor são atividades separadas. “Tentei mostrar que o mundo hoje tem várias possibilidades profissionais, desde as carreiras clássicas a novas, ainda pouco exploradas, mas que o essencial é buscar um trabalho que desperte paixão e seja desempenhado em busca de um mundo melhor”, diz Wellington Nogueira, fundador da ONG Doutores da Alegria.
Apesar da experiência em apresentações, Nogueira garante que sentiu um frio na barriga antes de sua palestra. “A gente nunca sabe como adolescentes vão receber uma fala sobre profissão, lições de vida etc, ainda mais no último dia de atividades. Porém, a qualidade da escuta desses jovens foi ótima. Absorveram tudo e, acredito, levaram boas recordações para casa”.
Acampamento levantado, as lições já têm dado fruto. Natasha, por exemplo, diz que, ao sair do acampamento, buscou uma ONG para se voluntariar. “Inicialmente, é uma participação pequena, mas pretendo aumentá-la”, garante. “Estou tentando me mudar para melhor para mudar aquilo que mais amo – o mundo e quem está dentro dele”.