Esporte e cidadania: uma combinação vencedora
Crianças da Fundação Gol de Letra em aula
de capoeira (Crédito: Fundação Gol de Letra)
A Copa do Mundo de 2014 se destacou por partidas emocionantes como há muito não se via. Isto é resultado do esforço de jovens que aprenderam a acreditar em suas capacidades, trabalhar duro, em equipe e com disciplina para atingir seus objetivos de vida – serem os melhores no que fazem, mas sabendo aceitar revezes e aprender com eles. Estes valores vão além do futebol e são repassados a crianças e adolescentes por diversas organizações que vêem nas atividades esportivas uma excelente maneira de promover a inclusão social e a cidadania.
“O esporte é uma ferramenta sedutora para educar, formar cidadãos e mostrar que barreiras podem ser rompidas”, afirma Beatriz Pantaleão, diretora da unidade carioca da Fundação Gol de Letra. Instituída por dois campeões do mundo de futebol, Raí e Leonardo, a ONG utiliza futebol, vôlei, basquete e até modalidades mais radicais, como skate, para estimular o aprendizado de crianças e adolescentes e passar valores a elas. Atualmente, atende 1300 jovens na comunidade do Caju, no Rio de Janeiro, e na Vila Albertina, em São Paulo.
“Além de mostrar a importância de ser solidário, estar bem preparado, acreditar em si e respeitar o outro, o que nem sempre acontece com crianças e jovens de baixa renda, o esporte estimula a busca de conhecimento”, garante Beatriz.
Um exemplo de como isso acontece são as competições organizadas pela Gol de Letra com seus alunos. Além de praticar esporte, os alunos são estimulados a buscar informações sobre os países que defendem no torneio e debatê-las com os professores. “Assim, aprendem mais geografia e história, por exemplo”, diz. O conhecimento de anatomia, química, biologia, entre outras disciplinas aplicadas ao esporte, também é fomentado nas atividades, que acontecem ao menos duas vezes por semana, fora do horário escolar.
Resultados
Crianças atendidas pelo Instituto Compartilhar
disputam partida de vôlei em quadra reduzida
(Crédito: Instituto Compartilhar)
Os resultados do uso do esporte para melhorar o desempenho escolar e o espírito cidadão foram comprovados por outra organização, o Instituto Compartilhar. Fundada pelo técnico da seleção brasileira de voleibol masculino, Bernardinho, a entidade atende estudantes de 6 a 15 anos de escolas públicas do Rio de Janeiro, de Curitiba e de Belo Horizonte.
Em 2012, a ONG realizou um estudo aprofundado em um de seus núcleos, o do Forte do Leme, no Rio, e obteve dados interessantes. Pelo lado da escola, diretores e professores afirmaram que desde o início do projeto, em 2007, os alunos têm se mostrado mais interessados no conteúdo didático, estimulados pelas aulas de esporte que são ministradas, no projeto, em conjunto com os professores de educação física do colégio.
Nas falas das crianças e jovens, percebeu-se menos timidez, mais vontade de aprender e, principalmente, maior capacidade de superação. “Nossa metodologia faz com que a criança evolua aos poucos, em quadras adequadas para seu tamanho”, afirma Luiz Fernando Nascimento, gerente-executivo da ONG. “Essa gradualidade lhes dá confiança e vontade de evoluir sempre, o que se reflete na escola e mesmo dentro de casa”.
É o que aconteceu com Danielle Ferreira, de 14 anos. Moradora de Copacabana, a adolescente está há quase três anos participando das atividades do Instituto, que conheceu nas areias da praia. Interessada no vôlei, pediu para fazer parte do projeto. Passou, então, a integrar a programação e a praticar o esporte que antes via apenas pela TV. “Depois que comecei, acho que fiquei mais responsável e aprendi a respeitar mais os outros”, diz. “E ajudou bastante na escola também, presto mais atenção”.
Há três meses no projeto, Luis Henrique Sousa, de 13 anos, afirma ter aprendido a jogar vôlei e estar menos tímido no dia a dia. Ele credita as mudanças às lições aprendidas nas aulas esportivas, que, no seu caso, incluem capoeira. “Falo mais com as pessoas”, garante.
Questionados se pretendem continuar no esporte, ambos afirmam que sim, apesar de nenhum projeto social que trabalhe com esporte tenha a formação de atletas como objetivo. “Vou até fazer teste para um time”, diz Danielle. “Mas o que aprendi aqui vou levar sempre comigo”, garante. Cidadania e autoestima são medalhas para sempre.