Voluntários em defesa dos animais
Cartaz disponível no site da PEA
A PEA (Projeto Esperança Animal) é uma entidade sem fins lucrativos que funciona apenas com trabalho voluntário. Focada na conscientização da sociedade sobre o bem-estar dos animais – tanto domésticos quanto silvestres –, a entidade conta com a iniciativa pessoal de seus cerca de 8,6 mil ativistas, como são chamados os voluntários.
Eles atuam na propagação de informações – seja individualmente, conscientizando familiares e amigos, seja em campanhas mais amplas. “É possível colaborar tanto tecnicamente, com suas habilidades profissionais, quanto simplesmente divulgando nosso site e disseminando informações em prol da conscientização”, conta, nesta entrevista, o diretor geral da PEA, Carlos Rosolen.
Por Vinicius Neder
Como começou a PEA?
Carlos Rosolen – A entidade começou a partir do trabalho de conclusão de curso de graduação da fundadora [Ana Gabriela de Toledo] e tomou forma em 2003, quando reuniu outras pessoas engajadas no tema, com a mesma visão. Em 2003, a entidade foi oficializada. Todos os colaboradores são voluntários e a entidade funciona num modelo de home office, cada um trabalhando de casa ou de seus escritórios. Temos colaboradores de várias áreas, como veterinários, designers, advogados, comunicadores etc.
O foco do trabalho da PEA é na conscientização. Por que foi feita essa opção?
Rosolen – Na época da fundação, após uma avaliação das entidades que atuavam em temas relacionados à fauna, verificamos que não adiantaria abrir mais um abrigo para animais. Ele lotaria e não resolveria o problema. Resolvemos, então, que seria melhor atacar o problema pela base, ou seja, na conscientização da sociedade.
Quais são as principais ações desenvolvidas pela PEA?
Rosolen – O conceito do nosso trabalho está baseado na iniciativa individual de nossos ativistas, que é como chamamos nossos voluntários. Eles atuam na propagação de informações para conscientização ou em ações imediatas contra situações extremas, como no caso de maus-tratos. Em nosso site, temos uma cartilha, o Manual do Ativista, que detalha como cada um dos voluntários deve atuar. Dentro desse conceito, portanto, fazemos encontros e reuniões com os ativistas para incentivar a atitude individual de cada um, principalmente repassando informações. O primeiro passo é cada ativista olhar para sua própria casa e mudar seus hábitos. Não acreditamos no ditado popular de que uma andorinha sozinha não faz verão.
Que tipo de campanha a entidade organiza?
Rosolen – Por exemplo, fizemos uma campanha contra rodeios. A campanha identificou empresas patrocinadoras de rodeios e incentivava as pessoas a pararem de comprar os produtos ou serviços dessas empresas por patrocinarem esse tipo de atividade. Além de trocar de fornecedor, incentivávamos as pessoas a informar as empresas que estavam deixando de ser seus clientes porque eles patrocinavam rodeios. A campanha teve uma adesão muito grande, a ponto de organizadores de rodeio terem acionado a entidade judicialmente, já que começaram a perder patrocinadores. A ação judicial impediu que tratássemos dos rodeios em nossas campanhas. A disputa chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas recentemente voltamos a ter o direito de nos posicionar sobre o tema. Estamos agora aguardando a decisão final do processo.
Qual a estrutura de pessoal da PEA?
Rosolen – A estrutura de gestão e direção tem oito pessoas, todos voluntários. Além disso, estamos estruturando o Conselho Fiscal, com três membros, e o Conselho de Administração, que hoje tem cinco membros, mas passará a ter nove. Em nossa base de dados, temos 200 mil pessoas inscritas através do site, para receber informações ou fazer qualquer tipo de contato. O número de ativistas, as pessoas que põem a mão na massa, é de 8,6 mil.
Cartaz educativo
Como é possível colaborar com a entidade?
Rosolen – Há diversas formas de colaborar. Se o ativista tem especialidade em desenvolver estampas, por exemplo, pode ajudar criando camisetas. Temos muitos ativistas da área de comunicação, que contribuem com o desenvolvimento de peças para as campanhas. Além disso, temos muita colaboração de advogados. Portanto, é possível colaborar tanto tecnicamente, com suas habilidades profissionais, quanto simplesmente divulgando nosso site e disseminando informações em prol da conscientização.
Como a entidade é custeada? É possível colaborar fazendo doações?
Rosolen – Temos planos de associados disponíveis em nosso site. É possível doar apenas uma vez ou fazer um plano de doações mensais, com duração de um ano. Também aceitamos doações de medicamentos, que utilizamos ou encaminhamos para instituições de atendimento direto, ou material gráfico por exemplo. Uma vez, recebemos uma grande doação de papel, que usamos para a produção de folders. Mas o número de doadores é muito menor do que de ativistas e não chega nem a 200.
A instituição não atua diretamente no recolhimento e encaminhamento de animais abandonas, mas há algum trabalho relacionado a essa atividade?
Rosolen – Sim. Atuamos no chamado corredor da morte, com os animais recolhidos pelas carrocinhas das prefeituras. Nesse sentido, desenvolvemos e mantemos o site Queroumbicho.com.br. O sistema de cadastro é oferecido às prefeituras para ser utilizado como forma de encaminhar os animais abandonados e recolhidos nos abrigos públicos. O site é divulgado para que as pessoas interessadas em adotar um animal possam encontrá-lo. Um levantamento feito há um ano apontou que o site estava proporcionando a adoção de 6 mil bichos por ano. Hoje, temos cerca de 50 prefeituras cadastradas.
O sistema do site é mantido pela PEA?
Rosolen – Sim. A prefeitura cadastrada ganha login e senha de acesso para uma página administrada por ela, onde faz toda a gestão de seu cadastro, mas o sistema funcional continua sendo gerido por equipe da PEA, que usa sua rede para divulgar o site. É uma ferramenta de potencial enorme. Temos cerca de mil acessos por dia na página, o que pode ser considerado muito pouco na internet atualmente.
De 2003, quando a entidade foi criada, até hoje o que mudou em termos da conscientização da sociedade sobre o bem-estar dos animais?
Rosolen – A principal mudança de comportamento que pode ser observada é a queda do preconceito contra os vira-latas, uma causa de décadas de quem atua nessa área. A situação está muito melhor hoje. Atualmente, nos bairros nobres de São Paulo, já é possível ver “madames” andando com vira-latas, o que era impensável há dez anos. Hoje, é chique adotar um vira-lata.
Neste período, foi aprovada a Lei Arouca, que trata do uso de animais em pesquisa científica. Na avaliação da PEA, houve avanços nessa área?
Rosolen – A lei sobre uso científico dos animais veio mais a favor dos cientistas e serviu mais para confundir o judiciário. Desde 1998, a Lei de Crimes Ambientais considerava crime usar animais em testes, pesquisas e salas de aula, desde que houvesse alternativas. Mas algumas universidades usavam animais mesmo havendo opções. Um estudo feito na Europa apontou que animais seguiam sendo usados em testes e pesquisas porque é mais barato e porque os resultados podem ser manipulados mais facilmente. Com a Lei Arouca, gerou-se uma confusão, pois ninguém sabe o que vale mais, se ela ou a Lei de Crimes Ambientais. A Lei Arouca exige a existência de um conselho de ética para aprovar testes e pesquisas, mas não há nenhuma fiscalização do cumprimento da lei, ou mesmo do modo de atuação deste conselho.